Em duas semanas de retorno muita coisa tem acontecido em nossa rotina. O grupo é restrito, o que gera boas oportunidades de desafios e observação.
Não posso deixar de registrar o quanto tem sido um presente ter a Cecília na Maré. Como mãe, vejo o quanto ela está feliz nessa escola. Este fato fortalece minhas convicções do quanto somos uma escola que precisa acessar mais e mais crianças.
Me pergunto: como as famílias que tiram seus filhos não compreendem o quanto seus filhos são felizes, livres e inteiros neste lugar? Em duas semanas vejo a alegria da Cecília ao falar da escola, os saltos que ela tem dado em comunicação, interação e socialização é tão perceptível para nossa família… Como alguém pode dizer que não percebe avanços? Por que os avanços cognitivos precisam se sobressair aos avanços emocionais, sociais e afetivos?
Como educadora, meu desejo é que todas as crianças vivenciem lugares assim. Meu desejo é que os adultos se libertem das prisões que os aprisionaram na infância e percebam que para essa geração a importância está no resgate do humano, na consciência de que a tecnologia, a inteligência artificial, os altos índices de bons resultados não substituem a conexão uns com os outros, com o planeta, com o todo. Passar no vestibular talvez nem seja o mais importante daqui a alguns anos. Apresentar boa saúde mental, demonstrar inteligência emocional, sim. Voltando dos meus desejos, sinto a necessidade de comunicar para as famílias o quanto fazemos dentro dessa escola. O quanto o livre brincar é estudado, tem intencionalidade.
Ter tantas famílias representadas na reunião da Educação Infantil foi um bom começo. O que mais podemos fazer para que as famílias nos vejam com seus filhos? Chamar para o atelier, atrair para que entrem e vejam seus filhos… Convidar para participar de nossos projetos… são caminhos que tenho pensado.
Na quinta feira ao chamar a saída do Akira, ele me disse que tinha um pouquinho de cocô na cueca. Imediatamente parei o que estava fazendo e fui trocá-lo. Era final de almoço, aquela correria sem fim. Enquanto estava trocando, a mãe dele entrou no banheiro e acompanhou parte do processo. Vi em seu olhar muita gratidão por ver seu filho sendo cuidado naquele momento. Quando terminou a troca ela disse o quanto sente pela saída dele, (visto que vão embora em março morar noutro país) quanto ele falava da escola, das professoras durante as férias… O vínculo de confiança está construído.
Como acessar mais famílias nesse lugar de vínculo e confiança?
Karina Silva
Professora da Maré